Entrevistas

Monte Cruzeiro - Quijingue-Ba, 17 de setembro de 2011
Nascido em Quijingue, Laerte Brito é um dos fundadores do Quijingue.com, o portal de notícias mais acessado de Quijingue. Pedagogo, especialista em Educação e Novas Tecnologias, além de atuar como um dos blogueiros responsáveis pelo Quijingue.com, está como coordenador pedagógico do curso de Graduação em Administração a Distância da Universidade do Estado da Bahia (UNEB). É, também, membro fundador da Associação Quijinguense de Apoio à Cultura e Educação (AQ-ACE), que recentemente criou o projeto CAQTUS em Quijingue.







De onde surgiu a idéia de criar o quijingue.com?


Laerte - Bom, na verdade, desde que tive o primeiro contato com internet, despertei para o mundo de possibilidades que era a rede mundial de computadores. No final dos anos 90, a internet ainda era pouco difundida, cidades pequenas como a nossa quase não tinha acesso, para se ter uma idéia, fiz meu primeiro email em 1999.
Em 2001, eu já havia me mudado para Salvador e um amigo nosso de Quijingue, Paulinho Dom, iniciou a criação de um site para cidade. Foi uma das primeiras páginas desenvolvidas em nossa região. A página era basicamente um “livro de visitas”, em que as pessoas acessavam e podiam deixar comentários. Como o acesso à internet era muito restrito, a maioria dos acessos vinha de Quijinguenses que moravam nos grandes centros. Apesar de simples a página era para nós, naquele momento, algo fascinante. A possibilidade de interagir, através daquela ferramenta, com amigos que estavam distantes geograficamente nos deixava maravilhados.
Nesse mesmo período, entre 2002 e 2003, criei outra página, com uma proposta semelhante, onde pudéssemos reunir amigos virtualmente para descontrair e matar um pouco a saudade da nossa terra. Foi aí que surgiu o QuijinRock. O QuijinRock não tinha notícias, tínhamos apenas seções com a história e referências de Quijingue, Livro de visitas, fórum de discussão entre outros espaços de humor.
Alguns anos mais tarde, em 2006, com os amigos Vagner Rego e Joubert Brito, resolvemos fazer algo maior, um espaço que pudesse agregar a interação dos conterrâneos com notícias e informações relacionadas à Quijingue. Nessa mesma época, surgia um movimento intitulado “ONG Sociedade Livre”, que tinha como proposta principal a fiscalização da gestão pública municipal, surgiu então o site “ONG SOL”. Apesar de se chamar ONG SOL, o endereço do site era quijingue.com. Por mais de um ano, a ONG Sol funcionou a todo vapor, criticando, denunciando e levando entretenimento e cultura aos visitantes. Em meados de 2007 o site passou por uma nova reformulação e se dividiu em dois: ONG SOL e Qujingue.com. O ongsol.com continuou com a mesma proposta, enquanto que o Quijingue.com passou a ser um site de variedades. Um ano e meio depois, a proposta inicial da ONG Sol, havia esfriado e, mais uma vez, chegamos a conclusão que deveríamos incorporar as duas propostas em um só projeto. A partir daí, extinguiu-se o site da Ong Sol, ficando somente Quijingue.com.
Desde o início, o número de visitantes só aumenta. No começo tínhamos média de 80 visitas por mês, agora atingimos a marca de 10 mil acessos mensais. No final do ano passado (2010), o site passou a ter uma estrutura de blog, por sua facilidade de acesso e velocidade de atualização. Hoje somos mais que um blog, somos um Portal, reunindo informações e concentrando acesso a todos os sites blogs da região.


Como foi a aceitação dos internautas?


Laerte – Sempre foi muito boa. Os internautas ou Quijinautas, como gostamos de chamar, sempre foram participativos. Sempre nos ajudaram com críticas, sugestões, ajudando com isso, a fazer o Quijingue.com com a gente.



Qual a importância de um blog, assim como o quijingue.com, para uma cidade como a Quijingue que conhecemos?


Laerte- Bom, sem falsa modéstia, acredito que o Quijingue.com tem uma importância social muito forte, principalmente por sua independência editorial e seriedade no trato da informação. Prezamos pela credibilidade que alcançamos. Apesar de ainda não ter alcançado toda a população do nosso município, temos consciência da influência (positiva) que exercemos na sociedade. Isso nos faz lembrar, também, da responsabilidade que temos. Por isso, buscamos nos pautar na verdade, sempre com uma postura ética em defesa do interesse da coletividade.





E para você? Qual a dimensão do quijingue.com na sua vida ?

Laerte – É muito prazeroso. Apesar de não termos nenhum retorno financeiro (risos). É muito bom saber que, de alguma forma, na medida do possível, estamos contribuindo para manter o município em evidencia, apresentando e discutindo diariamente os seus problemas.


Já teve alguma notícia publicada pelo Quijingue.com que deu dor de cabeça?


Laerte – Dor de cabeça, não. Mas algumas geram certo desconforto. Nossa cidade é pequena, todos se conhecem e quando alguém é citado de forma negativa, seja em nossas postagens ou nos comentários dos visitantes, costumam não gostar. Isso é natural. Ter “telhado de vidro” não é fácil. Mas temos imensa preocupação em não expor ninguém ao ridículo ou fazer menção de forma desrespeitosa. Mesmo assim, às vezes acontecem descontentamentos (risos).


Qual foi a matéria que você postou que te deixou mais alegre?


Laerte – Acho que não tem uma em especial. Várias postagens nos deixaram felizes. Nos deixa feliz saber que tem um ‘Quijinauta’, em alguma parte do mundo, se informando sobre o que passa em sua cidade, através da nossa página.


E a que te deixou mais triste?


Laerte – É sempre muito triste quando temos que dar notícias ruins, como as relacionadas à violência ou mortes de conhecidos e amigos


Ao que, ou a quem se deve o sucesso todo do quijingue.com ?


Laerte – Bom. Obrigado pelo “sucesso todo” (risos). Acho que a combinação de objetividade e clareza nos textos com a “pegada” local, aliado à seriedade dos seus idealizadores, tornou o Quijingue.com tão popular entre os Quijinguenses. Mas acho que resumiríamos isso dizendo que é um portal de notícias feito por quijinguenses apaixonados por sua terra.


Já ouve situações engraçadas em relação ao blog?


Laerte – Bom, como eu disse anteriormente, de modo geral é muito prazeroso desenvolver esse trabalho. Não recordo agora nenhuma situação em especial, mas sempre damos boas gargalhadas, principalmente de alguns comentários bem humorados, que eventualmente surgem. (risos)


Alguém já foi tirar satisfações por não ter gostado de alguma matéria?


Laerte – Já aconteceu de questionarem a informação, ou de pedirem para retirar algum comentário. Isso sempre acontece. Sempre nos pedem para excluir comentários. Quando isso ocorre, a depender da justificativa, excluímos o comentário, sem problemas.


Como você vê a questão de liberdade de imprensa no nosso município?


Laerte – Acredito que houve um amadurecimento muito grande das pessoas e nossa também, quanto a isso. No começo, surgiram pressões e ameaças veladas para que desistíssemos, hoje não acontece mais. No geral, acho que nunca aconteceu algo que atentasse de forma veemente para a violação da liberdade de imprensa.


Os internautas participam ativamente do blog? Como?


Laerte - Sim. O grande diferencial do Quijingue.com é a interação do público. Seja através de textos enviados pelos nossos visitantes, como pelos seus comentários. Sites de notícia local que não permitem comentários são menos atrativos. As pessoas gostam de dar a sua opinião e de ler os comentários dos outros, também.


O quijignue.com mudou a realidade de Quijingue?


Laerte – Acredito que a maior conquista do Quijingue.com foi a possibilidade de evidenciar os problemas locais de uma forma incisiva e independente. Outra coisa que mudou foi com relação ao debate político, antes, política em nossa região era assunto para o período de eleição, depois do Quijigue.com, política tornou-se uma pauta diária. As pessoas agora discutem e fazem conjecturas no dia-a-dia. Resumindo, acredito que conseguimos inserir o debate político e social de forma constante em nosso município. Isso é um grande passo para que possamos encontrar as soluções para os problemas que afligem a nossa sociedade.


Fica o espaço aberto para suas palavras finais:


Laerte - Gostaria de agradecer o convite de vocês e dizer que ficamos muito felizes em ver o surgimento de outros espaços virtuais, como o blog de Monte Cruzeiro, preocupados e comprometidos com a temática local. Parabéns pelo trabalho e continuem firmes. Nós, do Quijingue.com, estamos sempre à disposição para apoiar iniciativas que contribuam de alguma forma com a valorização e desenvolvimento da nossa terra. Gostaria de dizer também que continuem acessando e participando com críticas e sugestões em nosso blog, afinal o Quijingue.com é uma construção coletiva. Desde 2006, quando publicamos os primeiros textos, ainda no site Sociedade Livre, o que sempre buscamos foi a interação com e entre os ‘quijinautas’ espalhados pelo mundo, no sentido de debater e construir alternativas viáveis para o desenvolvimento do nosso município. Por esta razão, antes de tudo, o Quijingue.com sou eu, você, somos todos nós, que acessamos, comentamos e enviamos um texto.

Muito obrigado !











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Monte Cruzeiro - Quijingue-Ba, 29 de julho de 2011

Bruno Maceté, é estudante de Humanidades da UFBA (Universidade Federal da Bahia) trabalha como Cinegrafista na área de Cinema, na Diretoria de Audiovisual, (órgão ligado a Fundação Cultural do Estado da Bahia) é também idealizador do Blog Maceté onde atua levando informação pra toda região.







MonteCruzeiro: Bruno, você vem lutando bravamente para resgatar a história local de Maceté. Recentemente, você lançou um curta-metragem com o título: Maceté, Memórias da Terra e do Povo. De onde veio a inspiração de resgatar a identidade regional da comunidade?

Bruno: O documentário foi realizado com a parceria de Danilo Umbelino, nós trabalhamos juntos na Diretoria de Audiovisual (DIMAS, orgão da Fundação Cultural do Estado da Bahia.
O nosso trabalho na DIMAS, consiste em apoiar o público nas produções cinematográficas, filmando, dando todo apoio técnico necessário, preferencialmente produções com poucos recursos. Então depois de vários trabalhos realizados, curtas metragens, documentários, ajudamos de várias maneiras os trabalhos de outras pessoas. Veio uma idéia na cabeça: tenho que fazer um documentário na minha terra, e ai junto com Danilo, decidimos então realizar.
Sempre pensando na questão do resgate e valorização histórica de Maceté, nas questões sociais, que a população enfrenta. Foi nesse sentido que fizemos, tentando de alguma maneira dá uma pequena contribuição com a sociedade.



MonteCruzeiro: O que é narrado no documentário?

Bruno: Tentamos mostrar como se deu o processo de construção do povoado, sempre pensando na questão histórico-cultural, na valorização e no resgate histórico, por outro lado abordamos também questões sociais, os problemas enfrentados pela comunidade, a ausência do poder público atuando na sociedade. Então fizemos um trabalho amplo, claro que faltou algo e que poderia ter ficado melhor, mas dentro das circunstâncias enfrentadas, o trabalho foi satisfatório, só o fato de ver a praça lotada no dia do lançamento para ver o filme e que a população gostou, isso já é muito satisfatório.


MonteCruzeiro: Você fez o documentário sozinho?

Bruno: Não, a direção do documentário foi feita por mim e por Danilo Umbelino, mas, em volta do projeto tivemos apoio de dezenas de amigos, pessoas dispostas a colaborar com a realização, já que não tivemos apoio financeiro para as gravações. Diretamente na equipe de realização tinha Rivelino e Rosângela, pessoas que nos ajudaram bastante.
Rosangela então, foi a pessoa que mais abusei, até hoje falo isso a ela.(risos), pois era ela a pessoa a qual tínhamos contatos para a produção, como eu e Danilo morávamos em Salvador, era ela que arrumava todas as coisas necessárias, além de outros amigos e familiares queridos que nos ajudaram



MonteCruzeiro: O documentário irá participar do 6° Encontro de Cinema e Vídeos dos Sertões, qual a sua expectativa desse encontro?

Bruno: Então, é a segunda vez que o nosso documentário participa deste evento, no ano passado participamos também, é muito legal esses eventos, independente de ganhar prêmios, só o fato do nosso trabalho está sendo visto por outras pessoas, onde elas terão contato e conhecimento de um pouco da nossa história, isso já é satisfatório.


MonteCruzeiro: Quando e onde será esse encontro?

Bruno: O evento acontecerá entre os dias 22 e 26 de novembro de 2011, na cidade de Floriano, estado do Piauí.


MonteCruzeiro: Maceté é tratado como deveria pela história? Ou você acha que ela deveria ter mais destaque nacional por ter representado o primeiro confronto entre Conselheiro e os soldados?

Bruno: Retorno as linhas finais da resposta da primeira pergunta. Falar de reconhecimento histórico em um país como o Brasil é complicado, a própria história da construção do Brasil nunca é ensinada devidamente nas escolas primárias, e sim de maneira controversa.Podemos falar de valorização; quem vai valorizar as raízes identitárias e a história de uma localidade? Se os próprios habitantes não tem o conhecimento da história da sua terra,o poder público não atua neste sentido, então não haverá valorização, é o que acontece em Maceté, não há o mínimo interesse por parte do poder público, na valorização da nossa história, essa valorização histórica defendida aqui, deve comungar entre poder público, educadores e sociedade civil.


MonteCruzeiro: Ainda existe a placa que marca exatamente o confronto entre conselheiristas e soldados republicanos?

Bruno: A placa que existia lá foi colocada em 1997, na época das comemorações do centenário da Guerra de Canudos, atualmente não existe absolutamente nada de monumento que lembre o combate entre conselheiristas contra as forças policiais. A placa foi retirada ano passado pra construção de um espaço para festas, a mesma estava toda quebrada por atos de vandalismo e pela falta de cuidado pelo poder público, a começar onde e como ela foi coloca, em um local isolado, no meio do nada.


MonteCruzeiro: Fora Antonio Conselheiro, Maceté também foi visitado por Lampião e sua tropa. Existe alguém na comunidade que chegou a vê-lo?

Bruno:
Existe um senhor chamado Joaquim Moreira, que em depoimento para o documentário Maceté, ele afirmou a mim e a Danilo Umbelino, que viu lampião, segundo ele era alto, magro com aquele chapéu famoso que conhecemos.

MonteCruzeiro: Qual a importância de Maceté, na história do Brasil, sendo que a transição de Império/Republica tinha se dado a pouco tempo antes do combate de maceté?

Bruno:
Maceté assumi um papel importante na história a partir de acontecimentos que perpassam o seu território, como a passagem de Antônio Conselheiro, originando o primeiro conflito armando entre tropas do governo republicano e conselheiristas, anos depois acontece a “Guerra de Canudos” (1896-1897). No século XX, temos a passagem dos revoltosos da coluna prestes, como também o rei do cangaço “Lampião” que em outrora transitou neste território.
Maceté está nas páginas de vários livros que tratam do tema relacionado a guerra de canudos, no próprio clássico os “Sertões” do Escritor Euclides da Cunha, em vários momentos aparecem citações relacionadas. Por outro lado é vítima da invisibilidade e valorização histórica, assim como outros territórios, temos o exemplo do Caldeirão de Santa Cruz do Deserto “Beato José Lourenço” que foi dizimado da mesma forma que os habitantes do Arraial de Canudos.



MonteCruzeiro: Qual a importância de Maceté para o município de Quijingue?

Bruno:
Não dá pra traçar um grau de importância, podemos colocar levando em consideração que é um dos maiores povoados do município juntamente com Algodões que é o distrito, tendo um dos maiores colégios eleitorais, onde temos dois representantes na câmara municipal de vereadores sendo de Maceté. Por mais que não tenhamos grandes ações efetivas por parte dos poderes públicos, seja municipal ou estadual, a comunidade consegue manter um mínimo crescimento possível, seja por renda vinda de outras cidades e estados, programas sociais do governo, ou até mesmo da própria agricultura e pecuária que são as maiores atividades na região do sertão.


MonteCruzeiro: De onde nasceu o povoado?

Bruno:
As terras onde se situa o povoado eram terras indígenas, ainda temos aldeias próximas de Maceté, como a de massacará .
Falando da história da construção do povoado, moradores da Maceté, afirmam que onde hoje se situa o povoado era uma fazenda, que posteriormente foi se povoando, e recebendo o nome de Maceté.



MonteCruzeiro: E qual a origem e significado da palavra Maceté?

Bruno:
Não tenho conhecimento do significado da palavra sendo esclarecida por um especialista, mas o que sabemos é que Maceté é uma palavra de origem indígena que significa “Terra Rústica.”


MonteCruzeiro: Vemos em Maceté o que é normal encontrar no resto dos povoados do município de Quijingue. O que está faltando para que esse quadro mude, ou apenas melhore algumas condições?

Bruno:
Um dos problemas que mais atinge a população, principalmente os jovens é falta de perspectiva de vida, não há uma visão de futuro, falta emprego,falta diversão, interatividade, acesso a bens culturais entre tantos outros, um jovem de um povoado qualquer do sertão, a vida dele é acordar, aqueles que estudam vão pra escola, os outros passam o dia na rua, sem ter o que fazer. Então, precisa- se de projetos, ações concretas por parte dos poderes públicos, para que possamos melhorar esta realidade que temos, não só em Maceté, mas em todo município, sabemos que existem outros povoados mais necessitados.