Um dia - faz muito tempo -
achei que era imperativo fazer um poema sobre a Bahia,
mãe de nós todos, amante crespa de nós todos.
Mas eu nunca tinha visto, sentido, pisado, dormido, amado a Bahia.
Ela era para mim um desenho no atlas,
onde nomes brincavam de me chamar:
Boninal,
Gentio do Ouro,
QUIJINGUE,
Xiquexique,
Andorinha,
- Vem... me diziam os nomes, ora doces.
- Vem! ora enérgicos ordenavam.
Não fui.
Deixei fugir a minha mocidade,
deixei passar o espírito de viagem,
sem o qual é vão percorrer as sete partidas do mundo.
Ou por outra, comecei a viajar por dentro, à minha maneira.
Ainda carece fazer poema sobre a Bahia?
Não.
A Bahia ficou sendo para mim
poema natural
respirável
bebível
comível
sem necessidades de fonemas.
(Carlos Drummond de Andrade)
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